A influência da parcialidade da mídia comercial na opinião popular sobre Israel, Palestina e Hamas

Autora: Jessica Freitas

Revisado por: Elaine S. da Luz, coordenadora de comunicação e redação da ANAPRI

A forma como uma mensagem é transmitida impacta diretamente na interpretação do receptor e, consequentemente, na sua reação após recebê-la. Apenas o fato de receber uma mensagem em caps lock já altera a interpretação de como uma informação nos é passada por meio de um aplicativo de mensagens, por exemplo. 

A transmissão de notícias por meio da mídia jornalística, também, é influenciada por pequenos detalhes que fazem a diferença na interpretação final de seu público. Afinal, “Pode o veículo ter uma abordagem distorcida dos fatos, uma vez que seu objetivo é informar? Teoricamente, não. Mas, na prática, a realidade é outra, e as abordagens diferem de veículo para veículo, de jornalista para jornalista e, mais tarde, o entendimento do que foi escrito também será diverso entre os leitores.” (CARDIA, 2008)

Não é de hoje que a imprensa ocidental prioriza mais o comércio da informação do que o compromisso com uma transmissão de notícias puras e sem manipulação, isso é notável em muitas interações entre canais de comunicação e políticos que muitas vezes dependem da mídia para divulgação de campanhas eleitorais, por exemplo, “se os políticos encontram nos media a forma mais eficaz para chegarem aos cidadãos, os media procuram na política os acontecimentos que interessam às audiências, o que por vezes contraria os interesses dos políticos.” (CANAVILHAS, 2009).

Isso ocorre, também, em muitas outras áreas, e desde 7 de outubro de 2023, início dos mais recentes ataques entre  Israel e o grupo Hamas, é gritante a forma como a mídia comercial está controlando a narrativa desse histórico conflito. Sobretudo a impressa de países como Brasil, Estados Unidos e Reino Unido, que agem de maneira parcial, utilizando palavras e expressões que, a princípio, podem parecer sinônimos, mas geram conclusões bem diferentes, veja alguns exemplos dos termos mais comuns utilizados nesse caso:

Um míssil ataca/ Um míssil atinge; operação terrorista/ operação defensiva; crianças reféns/ menores presos; pessoas foram assassinadas/ foram mortas…

Aqui fica evidente que, apesar de se referirem a ações similares, à forma com que é transmitida sempre deixa o primeiro como “vilão” e o segundo como “vítima”. O fato aqui não é definir os papéis de cada um, mas sim trazer a tona os acontecimentos sem promover um lado e menosprezar o outro, já que a atenção a essa parte do oriente só é dada quando há um ataque no nível em que se está presenciando, dando a impressão para os espectadores que no período entre ataques há uma certa “paz”, porém, a “opressão sistemática do Estado de Israel sobre os palestinos, há décadas submetidos a uma política de militarização, segregação institucionalizada, roubo de terras, demolição de casas, violências físicas e morais, encarceramento em massa e assassinatos. Nesse alinhamento editorial quase automático à narrativa israelense e das potências ocidentais sobre os fatos, a vida dos palestinos parece valer menos” (LIMA, 2023).

Com isso, o público dessas grandes mídias acaba com pouquíssimas oportunidades de entender a história dessa guerra, o que impede uma resolução e que nenhum dos lados é inocente, porém, entender a causa palestina é entender que a conjuntura de um povo que sofre aparthaid em seu território, é entender que o Hamas não é representante legal do Estado da Palestina e que seus atos são sim atrozes, mas que isso não justifica os crimes de guerra cometidos pelo Estado de Israel contra uma população honesta e que há tempos tem seus direitos humanos negados.

Podemos entender então o quão grave é uma mídia parcial que induz a audiência a uma ideia que esconde muitas verdades, é inaceitável que, como um dos atores internacionais que tem grande papel decisivo, os meios de comunicação induzam seu público a escolher um lado como se a guerra fosse uma partida de futebol. 

Referências 

Cardia, WC. A Influência da Mídia na Opinião Pública e sobre a Influência desta na Mídia: O Governo Lula em Veja e Época. Dissertação (Mestrado em Comunicação Social) – Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2008.

Canavilhas, J. A Comunicação Política na Era da Internet. LABCOM. 2009

LIMA, E. A contribuição da mídia para o ciclo de violência. Le Monde DiplomatiqueLe Monde Diplomatique Brasil, 17 out. 2023. Disponível em: <https://diplomatique.org.br/a-contribuicao-da-midia-para-o-ciclo-de-violencia/>. Acesso em: 22 nov. 2023