Autor: Pedro Solon Assis Ramelli

Revisado por: Elaine Silva da Luz, coordenadora de comunicação e redação da ANAPRI

O termo “islamofobia” é algo que ainda se encontra em discussão na literatura acadêmica, não existindo um consenso sobre a sua definição. Muñoz e Grosfoguel (2012) enfatizam que essa controvérsia tem culminado em posturas de questionamento perante a existência e validade de acontecimentos que abordam a temática nas sociedades ocidentais, uma vez que não há nenhuma declaração legal estabelecida ou uma aceitação geral de sua relevância.

No que tange às percepções e atitudes que alimentam o sentimento de Islamofobia com certa recorrência, é comum a interpretação do Islã como um bloco monolítico, estático e oposto à mudança, sem valores em comum com outras culturas e não tendo influência nem sendo influenciado por elas; considerada como inferior ao Ocidente e bárbaro, irracional, primitivo, sexista, violento, apoiador do terrorismo e engajado em um choque de civilizações. Esse último refere-se à teoria desenvolvida por Huntington (1996), no qual, diante do contexto da globalização e da legitimação de uma nova ordem mundial uni-multipolar, afirma que o ponto inicial dos conflitos futuros estariam pautados essencialmente pela diferença cultural entre distintas civilizações. Nessa perspectiva, existe uma tentativa de efetivar uma ideologia supremacista por intermédio da estigmatização das culturas de qualquer ator que rechace a recém instaurada hegemonía política, econômica e militar ocidental.

Nesse viés, essa formulação de estrutura e estigmatização cultural segrega a complexidade e subjetividade inerente a cada indivíduo ao tratá-la como totalmente homogênea e sem qualquer lapso de diversificação cultural, étnica e social interna. Apesar do termo da islamofobia ter sido popularizado nos anos 90 para referenciar as percepções pejorativas acerca do islamismo e dos muçulmanos, seu uso somente se generalizou e consolidou a partir de 2001, após o ataque às torres gêmeas em 11 de setembro e a promoção de uma “guerra contra o terror”. Isso corroborou para uma situação de justificar e normalizar políticas anti-islâmicas, fomentadas por práticas hostis e discriminatórias de preconceito e ódio racial, construído discursivamente diante a situação ocorrida nos Estados Unidos. 

Portanto, a discriminação se propagou pelo mundo e se firmou principalmente na Europa pela proximidade com países islâmicos e intensificação das imigrações da população muçulmana que se estabeleceram nos países. Após a Crise dos Refugiados de 2015, o preconceito resultou no crescimento dos partidos de extrema-direita – como o Vox, PiS e MSI – e interrompeu o processo de adesão da Turquia à União Europeia e, com isso, a supranacionalidade da União Europeia fica a mercê de grupos políticos poderosos que fomentam essa segregação.

REFERÊNCIAS

CERVI, L. 2020. “Exclusionary Populism and Islamophobia: A Comparative Analysis of Italy and Spain”. MDPI, pp. 1-21. Disponível em: <https://www.mdpi.com/2077-1444/11/10/516>.

DE MENEZES SOUSA, E. E.; ASSIS RAMELLI, P. S. . A Ultradireita e a Islamofobia: Um estudo de caso do partido espanhol Vox e sua posição anti-muçulmana. Revista de Iniciação Científica em Relações Internacionais, [S. l.], v. 11, n. 21, p. 1–15, 2023. Disponível em: <https://periodicos.ufpb.br/index.php/ricri/article/view/66874>. 

HUNTINGTON, S. (1996). Choque de civilizações. São Paulo: Objetiva.

MUÑOZ, G. M.; GROSFOGUEL, R. 2012. La Islamofobia a debate: La genealogía del miedo al islam y la construcción de los discursos anti-islámicos. pp. 35-60 [S. l.: s. n.]. Disponível em: <https://www.educatolerancia.com/pdf/La%20islamofobia%20a%20debate.pdf>.