O cenário exitoso da paradiplomacia em Curitiba | por Beatriz Nobre

Revisado por Elaine Silva da Luz, coordenadora de comunicação e redação da ANAPRI

Iniciaremos a partir deste post uma série para observarmos melhor o cenário da paradiplomacia em diversas cidades no Brasil e no mundo. A intenção é perpassar por cidades, províncias, regiões etc. nos cinco continentes, traçando um breve panorama de seu histórico de atuação com as relações internacionais. Começaremos, então, conhecendo uma cidade brasileira que vem ganhando cada vez mais proeminência internacional por suas boas práticas em políticas públicas e por seu engajamento com atores internacionais: Curitiba, a capital paranaense.

Em nível estadual, a paradiplomacia no Paraná passou a ganhar impulso nas gestões do início dos anos 90 e dos anos 2000 de Roberto Requião e seguiu evoluindo com a criação de estruturas distintas no organograma do governo para tratar de cooperação internacional (Martins; Procopiuck, 2023). Já a capital passou a ganhar relevância no cenário internacional a partir da administração de Jaime Lerner, porém ainda sem ser institucionalizada – fato que só viria a acontecer no segundo mandato de Cássio Taniguchi (2001-2005) (Martins; Procopiuck, 2023).

O órgão, então, funcionou como Secretaria Municipal de Relações Internacionais até 2013, quando foi desativada e, no lugar, instituída uma Assessoria de Relações Internacionais, que está até hoje vinculada ao Gabinete do Prefeito. A Assessoria possui 6 eixos estratégicos de atuação: 1) a internacionalização da administração; 2) o relacionamento diplomático; 3) o vínculo com cidades-irmãs (Curitiba possui 16 atualmente); 4) a diplomacia cultural; 5) a recepção de delegações e missões; 6) o compromisso com os ODS, da ONU (Prefeitura Municipal de Curitiba, 2023a). Atualmente, tem como assessor-chefe Rodolpho Zannin Feijó, que, inclusive,  participou da 4ª Roda de Conversa da ANAPRI, cujo tema foi “Carreira em Paradiplomacia na prática”, em maio de 2023, contribuindo conosco ao compartilhar sua experiência na área.

A diminuição da autonomia da estrutura se deu principalmente devido às questões orçamentárias, porém, ainda assim, a Assessoria conseguiu manter as atividades e eventos internacionais, sobretudo nas áreas de meio ambiente e sustentabilidade e mobilidade urbana (Martins; Procopiuck, 2023).

Ademais, 2023 parece ter sido o “grande ano” para as relações internacionais de Curitiba: em 29 de março, em seu aniversário de 330 anos, a cidade inaugurou a Pirâmide Solar de Curitiba, projeto que recebeu apoio da rede de cidades C40, além de contar com recursos do Ministério Federal Alemão para o Desenvolvimento Econômico e Cooperação (BMZ), do Departamento de Negócios, Energia e Estratégia Industrial do Reino Unido (BEIS) e da Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID) (Prefeitura Municipal de Curitiba, 2023b). Recebeu também o prêmio mais importante do World Smart City Awards, realizado em Barcelona em novembro, o de ‘Cidade Mais Inteligente do Mundo’ – neste que é o maior evento sobre cidades inteligentes no mundo (Prefeitura Municipal de Curitiba, 2023b).

Além disso, seu pioneirismo em utilizar a metodologia espanhola de Destinos Turísticos Inteligentes no Brasil, que visa melhorar a qualidade de vida de seus próprios habitantes e, ao mesmo tempo, potencializar os negócios no setor de turismo, lhe fará a primeira cidade-sede da Feira Internacional de Destinos Inteligentes (FIDI) no país (ASN Nacional, 2023). O evento está previsto para ocorrer em março de 2024 e está inserido no contexto do Programa Turismo Futuro Brasil, do qual a cidade faz parte, e que é realizado pelo Sebrae em parceria com o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) (ASN Nacional, 2023).

Nesse sentido, dentre algumas das principais motivações que se mantém ao longo do tempo para a internacionalização da cidade, é possível destacar: o compromisso com a agenda de sustentabilidade (especialmente com os ODS), a necessidade do fortalecimento de laços através da diplomacia cultural e a busca por estabelecer projetos de cooperação internacional (Martins; Procopiuck, 2023).

Por fim, é possível perceber que o êxito das relações internacionais na capital do Paraná se deve não somente ao fato desta possuir uma estrutura especializada, já que esta ainda carece de profissionais formados em RI e/ou ao menos com habilidades de negociação e de domínio de idiomas, mas também devido ao planejamento estratégico feito e implementado por esta ao longo das diferentes administrações que passam pela prefeitura, a despeito de divergências políticas (Martins; Procopiuck, 2023).

Referências

ASN NACIONAL. Curitiba será sede da Feira Internacional de Destinos Inteligentes. Agência Sebrae, 29 set. 2023. Disponível em: <https://agenciasebrae.com.br/cultura-empreendedora/curitiba-sera-sede-da-feira-internacional-de-destinos-inteligentes/>. Acesso em: 03 jan. 2024.

MARTINS, José Ricardo; PROCOPIUCK, Mario. Paradiplomacia e institucionalização: a experiência das relações internacionais da municipalidade de Curitiba. Revista TIP – Trabajos de Investigación en Paradiplomacia, ano 12, n. 1, Buenos Aires, Argentina, mar. 2023.

PREFEITURA MUNICIPAL DE CURITIBA. Prefeitura Municipal de Curitiba. Prefeitura Municipal de Curitiba, 2023a. Disponível em: <https://www.curitiba.pr.gov.br/>. Acesso em: 03 jan. 2024.

PREFEITURA MUNICIPAL DE CURITIBA. O ano em que Curitiba brilhou para o mundo com parcerias e cooperações internacionais. Servidor Curitiba, 28 dez. 2023b. Disponível em: <https://servidor.curitiba.pr.gov.br/noticias/o-ano-em-que-curitiba-brilhou-para-o-mundo-com-parcerias-e-cooperacoes-internacionais/71806>. Acesso em: 03 jan. 2024.