O papel do machismo e do patriarcado na política internacional

Autoria por João Victor Catto Boleti, diretor geral da ANAPRI.

Revisado por Elaine Silva da Luz, coordenadora de comunicação e redação da ANAPRI.

Para introduzir a teoria feminista é necessário entender que ela foi essencial para a mudança da visão das relações internacionais. Teve seu início nas décadas de 1960 e 1970 com a criação de organizações como NOW (Organização Nacional das Mulheres em inglês) e da FLF ( Frente de Libertação Feminista em inglês) já que nesta época era o período do apaziguamento entre as potências da Guerra Fria tornando a questão de segurança menos importante, fazendo assim as questões sociais e libertárias ganharem força.

A questão do gênero, machismo e do patriarcado podem ser ditas como construções sociais, aplicando papéis específicos e diferentes para homens e mulheres, basicamente dizendo que o homem está acima da mulher no assunto de ciência política e em outras áreas. Mas é um erro dizer que esses aspectos afetam somente as mulheres, mas sim afetam todos dentro da sociedade, todos aqueles que não se encaixam no preceito de “macho alfa”.

A mulher, por mais que represente um pouco mais da metade da população mundial, está presente em poucos cargos de liderança na esfera política, ou seja, é sub-representada como líder, sendo vista como “fraca” em relação a tomada de decisões, já que culturalmente é tida como um “gênero levado pelas emoções, e na política não se tem emoções”. Isso é culpa do machismo criado socialmente para as mulheres, mas não só aplicado à esfera política como em muitas outras.

Também, temos que levar em conta a visão masculinizada do poder, visto que é  a principal força de um Estado nas análises anteriores. “Uma mulher seria capaz de controlar um governo e lidar com os problemas que o sistema internacional dá a esse Estado?”, a resposta dessa pergunta de acordo com a sociedade patriarcal sempre foi: Não, uma mulher não seria capaz disso, pois é coisa para homem. Seguindo essas regras totalmente equivocadas, pode-se dizer que um Estado que tem como líder uma mulher, seria visto como inferior aos outros.

O homem e a mulher são iguais perante a lei, portanto não há diferença em uma tomada de decisões. Nosso papel na sociedade é construído por ela mesma e com os seus preceitos, por isso é falho. A teoria feminista é por sua vez uma crítica a esse sistema, tem por objetivo mostrar para o mundo que as mulheres são capazes de administrar Estados e resolver problemas no meio internacional, grandes exemplos de outras esferas podem ser dados nessa análise como a ciência feminina que possibilitou a criação de diversas tecnologias que usamos e dependemos hoje em dia, como também o código que levou o ser humano pela primeira vez para fora desse planeta foi criado por uma mulher.

Se me recordo bem, na aula de diplomacia estudamos*, um caso da diplomata brasileira que foi essencial para a menção a igualdade de gênero na carta da ONU, Bertha Lutz, cientista política brasileira. Ela enfrentou bravamente com ajuda de outras diplomatas de diferentes delegações que eram contra a ideia da carta como a americana e britânica.

Esses são poucos de milhares de exemplos que me possibilitam dizer com total certeza que as mulheres são tão qualificadas quanto os homens em comparação ao que a sociedade acreditava que eram. Com a internet e a democratização da informação, é possível juntar todas as classes de mulheres em uma só voz, mas não só elas, todos temos o dever de lutar junto. É uma luta recente, já tivemos vários resultados, mas ainda há um longo caminho a ser traçado.

*Obs: Esse é um texto elaborado inicialmente para atividades acadêmicas e compartilhado aqui por ser um dilema que ainda se vivencia no cenário nacional e internacional. 

Referências:

ONU. Exclusivo diplomata brasileira foi essencial para a menção de igualdade de gênero na carta da ONU. Disponível em: https://nacoesunidas.org/exclusivo-diplomata-brasileira-foi-essencial-para-mencao-a-igualdade-de-genero-na-carta-da-onu/. Acesso em: 12 dez. 2018.