Os indicadores de igualdade de gênero na América Latina e Caribe

Autoria por Victória Cristine Ramos, analista de comunicação e redação da ANAPRI.

Revisado por Elaine Silva da Luz, coordenadora de comunicação e redação da ANAPRI. 

Por meio deste texto seguiremos com nossas reflexões sobre a Agenda 2030, abordando agora a agenda regional sobre gênero na América Latina e no Caribe – demais discussões podem ser conferidas em nosso site. No início de março deste ano, a ONU Mulheres em colaboração com a CEPAL (Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe) liberaram um relatório acerca dos avanços na perspectiva de gênero, reforçando os desafios que precisam ser enfrentados para o cumprimento dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS). Estima-se que apenas 25% dos ODS sejam alcançados, que 48% estejam lentamente seguindo na direção desejada, enquanto 27% estão retrocedendo (ONU Mulheres; CEPAL, 2024). Dessa forma, a busca pela igualdade de gênero até 2030 se mostra ameaçada. 

De acordo com o relatório, existe uma crise na região da América Latina e do Caribe que dificulta o progresso em busca do cumprimento de diversos ODS e impacta de maneira desproporcional as mulheres (ONU Mulheres; CEPAL, 2024). Por isso, é preciso dar mais atenção à questão de gênero nessas localidades, tendo em vista a adoção de estratégias interseccionais para superar a desigualdade. O desafio está, portanto, na mudança do entendimento de todos de que certas tarefas realizadas majoritariamente por mulheres, a exemplo do trabalho doméstico não remunerado – aqui incluso na categoria da economia de cuidado – são importantes para a economia  (ONU Mulheres; Cepal, 2024). Essa mudança de mentalidade é essencial para a construção de uma sociedade sustentável e igualitária.

Ainda segundo o mesmo documento, estimativas demonstram que até 2030 cerca de 20 milhões de mulheres e meninas estarão vivendo em situação de extrema pobreza na América Latina e no Caribe (ONU Mulheres; CEPAL, 2024). Essa pobreza afeta algumas categorias de indivíduos mais do que outras, a exemplo de crianças, indígenas e afrodescendentes (ONU Mulheres; CEPAL, 2024). Tais dados demonstram que muito há de ser feito na região para a garantia de um cumprimento efetivo da Agenda 2030. Ainda assim, alguns indicadores são mais preocupantes do que outros.

Enquanto a região fez avanços em determinados subtópicos, outros estão bem distantes das metas desejadas. Um exemplo é a meta 8.5 relacionada a emprego pleno e trabalho decente que, ao contrário do resto do mundo que está avançando, mesmo que lentamente, está retrocedendo. As mulheres em situação de trabalho informal estão mais vulneráveis que os homens e, consequentemente, são menores em termos de trabalho decente (ONU Mulheres; CEPAL, 2024). O mesmo ocorre com os subtópicos 16.1, 16.3 e 16.6, sobre justiça, redução de violência e instituições eficazes. Acerca desse tópico, as mulheres são mais suscetíveis a serem vítimas de violência na região e também as que menos ocupam cargos na política (ONU Mulheres; CEPAL, 2024). 

À vista do exposto, com relação às questões de gênero presentes nos objetivos da Agenda 2030, muito ainda há de ser feito, embora determinadas questões estejam avançando a passos lentos. Cerca de 19 dos 52 metas analisadas no relatório estão à frente do resto do mundo quanto a seu progresso; 8 metas das 52 estão atrás do resto do mundo, enquanto 25 delas estão em situação semelhante às demais regiões do globo. De qualquer forma, para que seja objetivo o alcance pleno de todas as metas, é preciso que os Estados reafirmem os compromissos feitos, aplicando medidas eficazes para que um maior progresso seja observado na região. 

Referências:

United Nations Women (UN WOMEN); Economic Commission for Latin América and the Caribbean (ECLAC). The 2030 Agenda for Sustainable Development and the Regional Gênero Agenda in Latin América and the Caribbean: gender indicators up to 2023. Santiago, 2024. Disponível em: https://lac.unwomen.org/en/digital-library/publications/2024/03/la-agenda-2030-para-el-desarrollo-sostenible-y-la-agenda-regional-de-genero-2023. Acesso em: 15 mar. 2024.