Teorias da Conspiração e a Ultradireita: O caso QAnon e a Pizzagate

Autor: Pedro Solon Assis Ramelli

Revisado por: Elaine S. da Luz, coordenadora de comunicação e redação da ANAPRI

O QAnon é um movimento social de conspiração politicamente orientado, que propaga teorias em prol do crescimento político da Ultradireita, seja em eleições ou redes sociais. A origem do movimento se deu nas profundezas do anônimo “imageboard 4chan”, em 2017, e se popularizou no mainstream da política e da cultura dos EUA com o começo da pandemia global de coronavírus em 2020.

Inicialmente, o QAnon se preocupa em elaborar a narrativa de que o ex-presidente, Donald Trump, estava determinado a desmantelar a elite liberal que controlava clandestinamente os EUA, incluindo famílias políticas como os Clintons e dinastias ricas, principalmente judias. Embora entrelaçada ao Pizzagate, a teoria QAnon não surgiu até quase um ano após o ocorrido em outubro de 2017.

O famoso caso da “Pizzagate” relatava que a pizzaria “Comet Ping Pong” era uma base operacional de um grupo de pedofilia e satanismo do alto escalão do governo americano, vinculada às figuras importantes do Partido Democrata, como a candidata presidencial Hillary Clinton, em 2016, e seu ex-gerente de campanha, John Podesta. As alegações surgiram pelo 4chan, reddit e blogs de direita com o objetivo de espalhar desinformação durante as eleições. Apoiada por supremacistas brancos, uma das notícias conteve que Hillary Clinton estava envolvida na quadrilha de tráfico de crianças associada com o milionário Jeffrey Epstein, criminoso sexual investigado desde 2005 por sua rede de tráfico e escravização sexual com menores e, em 2008, foi condenado pelo Departamento da Polícia de Palm Beach. Dessa forma, eles utilizaram o avião Lolita Express pertencente ao milionário e transportava as meninas até suas ilhas particulares do Caribe. O relato foi baseado no e-mail do ex-congressista Anthony Weiner, envolvido em um escândalo sexual de menor (sexting), de acordo com o departamento da polícia de Nova York.

Como efeito, Edgar Maddison Welch – seguidor do Pizzagate – atentou à pizzaria em dezembro de 2016, a fim de salvar as crianças que estavam detidas no local. Essa narrativa aborda as circunstâncias em torno da morte de Epstein, tornando-se a base para a criação de novas teorias da conspiração baseada nos elementos da Pizzagate, reiterando a existência da influência de Hillary Clinton pelo medo de Epstein confessar envolvimento com a ex-candidata e, após sua morte, Donald Trump utiliza sua rede social para disseminar a narrativa criada por esses grupos.

Após a criação da Pizzagate, em 2016, houve o surgimento de uma teoria da conspiração mais complexa no ano seguinte, chamada QAnon. Assim como é feito pela narrativa da ultradireita, o QAnon firmavasse nas teorias o líder populista Trump como única mão forte capaz de purificar o Estado dos parasitas da elite corrupta e livrar a população do “marxismo cultural”. A partir da irrealidade da batalha do ex-presidente eleito Donald Trump com um “Estado profundo”, composto por pedófilos satânicos do tráfico sexual, o movimento se estabelece.

Esses grupos radicais e conspiratórios misturam a realidade com a irrealidade, afirmando que os séquitos (de um líder extremista), ao se depararem com uma contradição deste, ao invés de verem aí um problema, pelo contrário, o parabenizaram pela grande esperteza tática. Apesar de constantes profecias que nunca tem confirmação, os seguidores não findam a crença no QAnon. Logo, Pizzagate é somente um componente de um multidimensional imaginário do mundo alternativo em que a pandemia de COVID-19 foi  uma fraude e um ataque à liberdade americana.

REFERÊNCIA 

AMARASINGAM, A.; ARGENTINO, M. The QAnon conspiracy theory: A security threat in the making? CTC Sentinel 13 (7), 2020.

BRACEWELL, Lorna. Gender, Populism, and the QAnon Conspiracy Movement. Frontiers in Sociology, 2021.

RUDGARD, Olivia. Why conspiracy theories are gaining ground in the pandemic. The Telegraph, 2020.

USCINSKI, Joseph et al.Who Supports QAnon? A Case Study in Political Extremism. The Journal of Politics, 2021.